sábado, 11 de setembro de 2010

Recriada


Terra de sol escaldante
onde o brincar das crianças
é romaria de pedras na cabeça
evocando esperada  chuva


O cercado da cadeia
de tão baixo que era
fazia do preso um vizinho
em nada encarcerado


A vizinha negra puri
servia angu com açúcar
o mais delicioso prato
para nossa fome de afeto


Na  esquerda o matadouro
onde em todo amanhecer
ecoavam  balidos de bode
e um gato lambia o sangue


O trabalho de doméstica
a troca de qualquer paga
principalmente comida
que aliviava as bocas da casa


São José das Piranhas
de açudes que nunca vi
e do Rio Borborema
onde meu pai pescava


Dos matinais passeios 
de ambulância a cargo do tio
das escuras estradas de terra
do terror dos cavalos fantasma


E ovo de passarinho
com sangue em sua gema
que ensinava da quaresma
por quê não se come ovo


Do caramujo e das pedras
inocente patológico
do rio de águas turvas
vertentes fartas de peixe


Paraíba onde está
senão na minha memória?


Norma de Souza Lopes



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