segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Obrigado Ano Velho

A muito deixei de me preocupar com planejamentos de Ano Novo. Aquela infindável lista de coisas que eu não conseguia realizar, piscando nas primeiras páginas da agenda me constrangiam o ano todo.
Mais do que esperar o próximo ano, eu quero agradecer a vida pelo caminho que ela me levou a percorrer em 2010. Foi literalmente um ano de vitórias. Não em decorrência do dinheiro que ganhei, da influência que exerci ou da aceitação que recebi. Falo da vitoriosa experiência que empreendi, mergulhando em mim mesma esse ano.
Nesse ano aprendi coisas tão importantes que, acredito piamente, mudaram meu jeito de existir pelo resto de minha vida.
A primeira delas é que tudo que meus sentidos percebem  é impermanente. De nada adianta querer agarrar o amor, a alegria, o sucesso ou a satisfação de todo dia. Isso irá passar. Mas é bom saber que toda tristeza, medo, raiva, mágoa, rejeição também é impermanente. Não dura. 
Com isso passei a me perguntar a todo momento se as emoções avassaladoras me invadem ocasionalmete serão importante na semana que vem. A resposta quase sempre é um sonoro não. Passei a aceitar o caráter impermanente de tudo. Isso me encheu de paz esse ano.
A segunda coisa que aprendi é acalmar minha mente lembrando que sensações são hormônios correndo dentro de mim. O frio na barriga, a dor no peito, os olhos lagrimejantes não são meu jeito de estar no mundo, são o meu corpo, respondendo biologicamente aos estímulos externos. Posso escolher responder a esses estímulos ou simplesmente deixá-los voltar ao seu lugar de origem, o sistema nervoso central. Não sou mais uma refém de minhas emoções e sensações. Eu escolho como me sentir. Eu escolho se vou mergulhar ou não na onda das sensações que me invade a cada evento novo que vivo. 
Se nas interações com as pessoas sou invadida pela raiva e percebo a corrente hormonal em mim, respiro e espero que ela passe. Nada daqueles rompantes irados do passado.
Se nas mesmas relações sinto humores alegres, afetivos e amorosos me invadir, pergunto se estou lendo corretamente o ato. Se a leitura estiver correta, me deixo sorrir ou gargalhar, devolver afetos, amar meus amigos, cuidar de meus familiares. Mergulho nessa onda de sensações. Eu escolho sentir.
Ainda vacilo às vezes e embarco em sensibilidades falsas ou desnecessárias. Nada mais do que circunstâncias de aprendizagem, importantes para o meu crescimento.
A terceira coisa que aprendi é que a autocomiseração é uma bigorna que me prende ao pior de mim mesma. Não dá para continuar me arrastando pela vida com essa colossal pena de mim mesma.  
Decidi mudar. E esse tem sido o maior desafio. 
Entendi o problema, mas meus mapas mentais são tão arraigados que a todo momento volto a velha forma de pensar: a auto piedade. Aguardo os progressos da mudança de paradigma na minha mente para os anos seguintes. Mais já me alegro com os sinais. Quando sou capaz de dissipar a autocomiseração e os melindres tenho mais sucesso em minhas empreitadas.
A quarta coisa que aprendi esse ano é que por mais que eu tente combater a sensação de fragmentação e de vazio interno, ela não vai me abandonar. Foi gerada quando saí do ventre de minha mãe. Lá eu estava segura, alimentada  e feliz. Era uma unidade. Ao nascer fui jogada nesse mundo, continuamente cindida de minha mãe, de seu ventre, de seus seios, de seus cuidados, e finalmente de seu aconchego. 
Mas nascer também foi a fundação de mim mesma. Posso conviver com essa cisão e me recriar continuamente. Construir minha individuação e me orgulhar de meus feitos independentes. Ser eu mesma implica em não passar a vida perseguindo aconchegos e fusões com outros seres. Cabe a mim caminhar com os outros (filhos, familia, amigos, amados, colegas) apenas como companheiros  de viagem, não como partes ou metades de mim. 
A quinta e talvez mais importante coisa que aprendi nesse ano de 2010 é que o verdadeiro "Eu" que abrigo em mim não é essa personalidade ou esse caráter aparente nas minha ações de todo dia. Essas são apenas as máscaras que exibo socialmente.  
É engraçado pensar que me alegro por descobrir quem eu não sou. Mas existe ganho real nisso. Não perco tempo tentando provar o que sou ou me associando a  alteregos alheios.  Estou numa jornada tão profunda e íntima que a cada dia descubro pérolas em mim. E a maior delas, a mais vibrante, é a  presença de Deus em meu interior, influenciando minha maneira de existir.  
Por tudo isso só posso agradecer o Ano Velho e esperar que eu possa consolidar minhas aprendizagem em 2011.

Norma de Souza Lopes

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