domingo, 2 de janeiro de 2011

Caçador de passarinho 
Cândido Portinari

Quentinho no peito

Não que eu seja supersticiosa, mas fiz ceia de Ano Novo e estou inquieta. Não fiz ceia em 2009 e tive um ano maravilhoso. 
Será que a ceia de 2010 afetará meu 2011?
Espero que não!
Pouca gente desta vez. O marido, os dois filho mais novos (a filha mais velha ceou  de novo como os parentes do namorado), a mãe, a irmã, sua filha e o seu namorado.
Muito vinho, muita comida e dessa vez, muita água , por que duas ressacas no mesmo mês ninguém aguenta. Ficava pensando no quanto é maluco comer daquele tanto depois das dez, mas ceia é tradição, não é?
Depois das duas fomos dormir. Teremos que treinar para ficarmos acordados mais tempo em 2011. Faltou prática. 
De manhã, começamos de novo a comilança. Pão com pernil defumado no bafo a noite inteira. E café coado na hora. Indizível.
Então começamos a falar de quem não deu o ar da graça. O pai, o irmão a  tia etc. Até meu filho chamar atenção e pedir para falarmos de coisa boa. Ele queria na verdade que parássemos de falar dos outros. Belo conselho para começar o ano. 
E falar de quem já morreu, pode?
A mãe relembra a aversão de minha avó. Afirma que o ódio era ciúmes. Era a única filha mulher duma prole de seis filhos. Era amada pelos tios e pelo avô. Só minha avó não correspondia. 
Contou uma história linda. O tio colocava-a num embornal de couro e  levava-a para caçar passarinho no cerrado de Santana de Ferros. Debaixo de uma árvore, ela conhecia o mundo e assistia às peripécias do tio na caçada,  atividade tão condenada hoje. 
Deleitava-se com esses passeios na companhia dos irmãos. Eles eram as lembranças vívidas do amor. Meus tios e meu avô realmente a amavam. Acredito que  isso ajudou quando meu pai a deixou com quatro filhos pequenos.  O amor familiar é um nutriente para décadas.
Em volta da mesa minha irmã relatou seu pedido de Ano Novo:
_ Quero ter um filho em 2011.
E minha sobrinha, sua filha, rebate com o próprio pedido:
_ Não quero ter um irmão em 2011.
Depois do almoço,  quando todos estavam amolecidos pelo resto da ceia, embolaram no quarto do filho de dezesseis para assistir um filme. 
Quarto de adolescente, aquele cheiro, dois na cama, dois no colchão de ar e uma no sofazinho. E o filme rolando num notebook de quatorze polegadas. Só    o som merecia a platéia. Digno de cinema. 
Na sala meu marido, o macho alfa. Dono do controle e do sofá, assistia sozinho outro filme aprazendo vinte e cinco polegadas a mais.
Minha mãe, que adora lavar louça, fez aquela cata e deixou tudo limpo. Amei!
Eu fui dormir no meu quarto porque ninguém é de ferro.
Uma hora depois acordo e me deparo com a cena. A platéia do notebook babando nos braços de morfeu e o filme rolando sozinho. 
Todo muito à vontade na minha casa, merecia foto. Uma visão assim me deu quentinho no peito.
Me convenci de que a ceia de Ano Novo traz sorte.
A sorte de poder desfrutar minha casa com toda a família. Vou repetir a dose esse ano.

Norma de Souza Lopes




3 comentários:

  1. adorei,vc transforma coisas do cotidiano em contos Maravilhosos

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  2. Consegui!!! Eu acho.

    Parabéns Norma!
    Como sempre vc arrasa nos seus textos.
    Depois volto para ler mais.
    Bjinhos!!!

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  3. Bom dia esta história foi retratada da forma que realmente aconteceu quanta imaginação para escrever e enriquecer valorizando nossa passagem de ano estamos ansiosos pela próximo texto parabéns pelo seu talento.

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