segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Entre a essência e a existência

Então. Parece simples. Basta crer que estamos definidos em nosso carma, e que no entanto não podemos parar de trabalhar.
Mas não é tão simples. E se eu passar pela vida trabalhando naquilo que não é minha determinação de ser? Quem irá me dizer com certeza que eu vim a esse mundo para ser professora e não agricultora, ou cabelereira?
Seria fácil se eu tivesse encontrado um guru que me dissesse a verdade indubitável. Você deve ser uma...
Pois é. Nada é simples. Eu não acreditaria em um cara que me afirmasse com certeza o que eu tenho que ser- Como assim, devo ser?- Eu não devo ser nada!
Provavelmente eu arquivasse seu conselho junto àquela miríades de conselhos que recebi de padres e pastores em meus quarenta anos pregressos.
Tudo bem. Há a determinação acerca do trabalho. Dizem que meu carma não deve me impedir de trabalhar no que sou nesse momento, uma professora. Se sou professora nesse momento devo me esforçar para ser a melhor professora. 
Mas ser a melhor professora implica em me dedicar pouco à escrita. Acontece que presumo que a escrita seja meu verdadeiro carma. Boa professora, péssima escritora, porque escritores precisam de tempo que uma professora não tem com todos aqueles planos, planilhas, formulários, avaliações e registros para fazer.
Eu avisei. Parece simples mais não é. 
Vamos detalhar a natureza do conflito. Não posso negar a validade das filosofias orientais. São para mim uma excelente resposta, com toda aquela argumentação acerca da impermanência, controle da mente e das sensações. Mas no bojo dessa sabedoria vem a idéia de determinação cármica. 
Elas me confundem porque esbarram em minhas premissas sartrianas do existencialismo, uma outra filosofia que me empodera quando me considera senhora de meus atos e destino. Para Sartre a essência não existe.
Durma com um barulho desses.
Eu estou pronta ou estou me fazendo?
O salmista já dizia que Deus já havia planejado todos os dias da minha vida, registrado-os em seu livro. Gosto de crer que Deus me amou antes. Ninguém gosta de ser  filho não planejado.
Por ora sigo me fazendo sobre aquilo que eu penso estar pronto. 
Sigo sobrescrevendo minha escrituras. Elas são como apontamentos sobre esse  livro da vida descrito pelos iluminados.
Me esforço naquilo que me cabe. Existir em essência.

Norma de Souza Lopes

2 comentários:

  1. Tenho que concordar com você Norma. Não, não é por osmose ou outra razão impensada. É por causa de determinadas circunstâncias que fogem do nosso controle (isso sem falar no lado material da sobrevivência). Eu trabalhei em mineração quase toda a minha vida. Se estivesse até hoje num emprego formal, jamais estaria me dedicando à escrita. Por outro lado também se dependesse de sobreviver dela, estaria morto de fome. Mas isso não creio que seja carma. Foram coincidências que se amontoaram ao longo de minha trajetória. Aliás, eu nem pensava em escrever nada além de rabiscos que sempre tive hábito de fazer desde a adolescência. O ócio inquieto foi que me trouxe até aqui. Abraços, querida Norma! Paz e bem.

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  2. Olá,

    Gostei de seu espaço e volto. Posso te linkar no meu blog?

    Abraços,

    Kleber

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