quinta-feira, 21 de abril de 2011

Risada




Nas areias às margens do rio observava Minino correr e provocar o cachorro de Seu Lino. Latia forte como um pitbull para o  pequeno cão, que arreganhava os dentes, rosnando raivoso. 
Eu havia gargalhado tanto com aquela brincadeira que depois de alguns minutos senti o fluido mole do riso correr pelo corpo. Era uma sensação morna que deslizava pelo tórax, descia e subia rumo aos pés e couro cabeludo. Vivendo aquele momento senti que seria feliz para sempre. Assim, de um modo fácil e simples.
Olhei para Minino correndo do cachorro e molhando os pés na água do rio. Tão bonito! O cabelo revolto com o vento, o bronze na pele e o porte magro e firme me fez pensar na minha sorte de desfrutar daquela beleza.
Lembrei de quando ele chegou naquelas paragens. Estacionou seu trailer às margens do rio sem pedir e as pessoas começaram a aparecer. Era o garoto que cozinhava, servia sanduíches, peixes fritos e gelados. Todos gostava de se sentar ali perto para comer e conversar com ele. A fala mansa e o jeito despreocupado lhe garantiu até o alvará do prefeito. 
Chamava-se Edmar, mas os mais velhos diziam " o minino do trailer". Acabou ficando Minino. Ele gostava.
Se alegrava com pouco. Uma boa história, um batuque de fim-de-tarde ou uma flor diferente na margem ribeirinha era motivo para deleite de horas.  Eu cheguei aos poucos. 
As brigas com o padrasto me tiravam a pressa de ir embora. Gostava de ficar perto daquele menino sorridente. Passei a ajudá-lo no trailer e fui ficando cada vez mais. Até o dia em que não fui mais embora. Como era boa com compras assumi a reposição dos produtos do trailer. Sempre conseguia preços melhores na feira. Com Minino era diferente.
_ Temos que pagar o que eles pedem, afinal o produto é deles.
Discordava. E assim construí minha utilidade naquele negócio.
Minino tinha um trailer Caravan acoplado ao um velho Chevrolet. Dividiu-o em duas partes para morar e trabalhar mas passava a maior parte de tempo com a lanchonete aberta. Era seu point de convívio. Passou a ser o meu também.
Todos sabíamos que ele podia ir embora a qualquer momento. Podia levar seu trailer em qualquer lugar. Talvez por isso desfrutássemos sua companhia como se sorvêssemos o suco de uma fruta exótica.  
E ele foi ficando por ali.
Dizia que gostava até dos cachorros daquele lugar.

Norma de Souza Lopes

2 comentários:

  1. Oba! Vai dividr em capítulos a história do Minino? Eu vou apreciar muito. Abraços, Norma. paz e bem.

    ResponderExcluir
  2. Como está, sempre com uma história nova eehh!!rs

    ResponderExcluir