segunda-feira, 30 de abril de 2012

Desfoco

Enquanto espero
verdadeiro amor 
que me cubra o oco
mãos me despem
aquecem a crosta
despedem o sonho

Norma de Souza Lopes



domingo, 29 de abril de 2012

Sem Ilusões

a vida que desejo
acontece longe de mim
e essa mentira que conto 
todos os dias
é a piada que tenho sido
para fazer 
o outro chorar

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Miragem

palavra trabalho te amo
abraço carreira familia próspero
amigo bom dia  sucesso
sorriso lar controle alegria
encontro harmonia mentira

ufa!

ainda bem que a poesia
fixa tudo que está no ar

Norma de Souza Lopes

Involuntário

me abro pétala
e colho
o prazer do abraço
plácida alegria

calor no plexo
desejo
reflexo
de amor

vem a palavra 
golpe
e me fecho 
galho de sismonastia

Norma de Souza Lopes

Papagaios

no ombro
do pirata
se falo
se trata
da fala
do outro

Norma de Souza Lopes


Fotografia

fotografia
é poesia
escrita com os olhos.

Norma de Souza Lopes

domingo, 15 de abril de 2012

O Longo Adeus

Estou acabando de ler " O longo Adeus" de Raymond Chandler e estou tão fascinada com seu ritmo que estou até com dificuldade de parar de ler. Oportunamente farei uma resenha. Por  hora vou citar a fala do personagem  Harlan Potter que muito me impressionou:
"_ Há uma coisa especial em relação a dinheiro - continuou. - Em grandes quantidades, tende a ter vida própria. Fica muito dificil de se controlar o poder do dinheiro. O homem sempre foi um animal venal. O crescimento das populações, os enormes custos das guerras, a incessante pressão confiscatória dos impostos - tudo isso faz o homem cada vez mais venal. O homem comum está cansado e assustado, e um homem cansado e assustado não pode ter ideais. Precisa comprar comida para sua familia. Na nossa época presenciamos um declínio chocante tanto na moralpública quanto na moral privada. Não se pode esperar qualidade de pessoas cujas vidas são uma sujeição à falta de qualidade. Não se pode ter qualidade com produção em massa. Não se deseja isso porque demoraria muito a chegar. Portanto, para substituir isso há o estilo, que é um logro comercial com a intenção de produzir coisas obsoletas e artificiais. A produção de massa não poderia vender seus produtos no ano que vem a não ser que faça o que vendeu esse ano ficar fora de moda. Temos cozinhas mais brancas e os banheiros mais brilhantes do mundo. Mas na adorável cozinha branca da dona-de-casa  americana média não consegue cozinhar uma refeiçõao boa de se comer, e o adorável banheiro brilhante é sobretudo um receptáculo para desodorantes, laxativos, soníferos e produtos dessa quadrilha de vigaristas que se chama indústria de cosméticos. Nós fazemos as embalagens mais bonitas do mundo, sr Marlowe. O que está dentro é, na maior parte, lixo."

Dito pelo personagem mais rico do romance, a fala fica ainda mais robusta.
Até breve com a resenha.

Norma de Souza Lopes


terça-feira, 10 de abril de 2012

domingo, 8 de abril de 2012

Enlouqueça ou desapareça

Renega a loucura
tão comum aos poetas
escolheu lutar para ser
mediocremente sã

Enforcou com as mãos
as palavras
todas suas cores e toda beleza

Paga caro por não se entregar
ao vício ou a bela besta que range dentes dentro de ti

Segue escrevendo esses versinhos tolos
essa masturbação linguística que só a ti diz respeito
Não proteste notoriedade
não há evidência sem a mordida da loucura

Norma de souza Lopes

Repetição

Então é isso garota
você abriu a porta novamente
uma pequena distração
e  de novo devassada

Continuamente sorrindo
repete o maldito convide
para que arranquem as flores do seu jardim

A tolice voltou
e com ela esse bolo no estômago
enxadas e rastelos serão necessários
para limpar a sujeira aí  dentro

Compulsão a repetição
e já se achava identificada
é  preciso estar vigilante
pois a qualquer medo insignificante
involuntariamente
as mãos irão abrir a porta
e a boca traidora
levará todos para dentro

Norma de Souza Lopes




sexta-feira, 6 de abril de 2012

Furo

Abaixo ameaça
a tartaruga obesa
forço e não passa
a cabeça
apesar do choque
atravesso a fresta
a cerca elétrica

que ele abre

Do outro lado
recuso adorno
de ouro
que me orne
o furo

Demasiado fálica
isso e avesso
fecunda e prenhe
de palavras

trilho
ora completa
ora falta

Norma de Souza Lopes



Norma de Souza Lopes