sexta-feira, 27 de julho de 2012

Rui Itálico
Prefiro pensar que gosto daquilo que é familiar. E há algo de familiar nesse olhar sobre as cenas cotidianas à luz da compreensão acerca do que é performance. Nesse sentido, para mim, a performance é bem familiar.
Me lembro do desempenho de minha mãe nos enterros. É preciso dizer que minha mãe é apaixonada por enterros. Não uma paixão mórbida pela morte, mas uma paixão pelo ritual de chorar o morto. Minha mãe é uma excelente carpideira. E isso aqui em Belo Horizonte é coisa que vale um espetáculo. Somos, na maioria das vezes, contidos até na dor. Existe entre nós, digo nós a maior parte das pessoas que conheço, um certo constrangimento em expressar nossa dor de maneira mais intensa. É sempre uns óculos escuros, um travesseiro quente pra chorar, coisas do gênero. Posso até dizer que minha mãe é assim. Na maiorira das vezes.
Por que quando o assunto é enterro a coisa muda de figura. Ela chora publicamente e com maestria. Conta que certa vez chegou a ficar envergonhada diante de uma viúva desconhecida que perguntou de onde ela conhecia o morto. Não conhecia.
Sempre vi beleza no exercicio de carpir que minha mãe desempenhava nos enterros e agora posso dar categoria a ele. É uma  perfomance familiar.

Norma de Souza Lopes

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