domingo, 30 de dezembro de 2012

50 dias serão o suficiente para que eu me convença de que o lugar de um revolucionário é na trincheira?
Em 2012 tive coragem de tirar os olhos de meu micromundoumbigo e olhar para macrocósmicomundo. Mas não muito.... Ainda.
Esse "golpe de olho", como diria minha mãe, teve efeitos catastróficos.
Em 2013 o estrago será maior.


N.S.L

30/12/12

O mesmo desejo que sinto de fazer com que um roteirista mude o final de um filme é o que me provoca esse poema de Adélia Prado. Ele me dá ganas de gritar: Diga alguma coisa mulher! 
No entanto eu sei: ele me afeta por que me lembra meus próprios silêncios.

ENREDO PARA UM TEMA

Ele me amava, mas não tinha dote,
só os cabelos pretíssimos e um beleza
de príncipe de estórias encantadas.
Não tem importância, falou a meu pai,
se é só por isto, espere.
Foi-se com uma bandeira
e ajuntou ouro pra me comprar três vezes.
Na volta me achou casada com D. Cristóvão.
Estimo que sejam felizes, disse.
O melhor do amor é sua memória, disse meu pai.
Demoraste tanto, que...disse D. Cristóvão.
Só eu não disse nada,
nem antes, nem depois.

Adélia Prado

sábado, 29 de dezembro de 2012

Cisco, argueiro

http://ww3.fl.ul.pt/unidades/centros/ctp/lusitana/rlus_ns/rlns05/rlns05_p157.pdf




Não sou mulher, não sou mãe,  não sou esposa,  não sou mestiça, não sou classe C,  não sou velha, não sou feia, não sou bela, não sou gorda, não sou sexy,  não sou boa, não sou má, não sou professora, não sou artista, não sou poeta, não sou alegre, não sou triste.
Eu sou é inédita toda manhã.

N.S.L.
29/12/12

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

diante das janelas escancaradas


diante das janelas escancaradas
para que entre o ar fresco 
e se desfaça o mormaço
luzes e árvores de plástico
escondem uma cidade degenerada
um coro uníssomo entoa
então é natal
a festa cifrão
o que você fez
tanto comprou
que vendeu-se outra vez

N.S.L
25/12/12

domingo, 23 de dezembro de 2012

New Bodyarte

N.S.L.
23/12/12
Hoje almocei no restaurante popular. E chorei muito enquanto comia. Um pouco por causa da música que tocava enquanto eu comia. A outra parte foi por que constatei que com 150 reais por mês eu poderia comer com qualidade todos os dias. Isso acirra minha vontade de desplugar desse mundo de glutamatos, edulcorantes e embalagens coloridas que nos faz trabalhar tanto.


NSL

21/12/12
A verdade sobre o que está posto quando me interrogo sobre minha pele, meu corpo não é um significante obscuro e enigmático, como eu julgava encontrar.
E apesar de eu não desconsiderar a perniciosidade da ditadura da moda, não tem nada a ver com a oposição aos padrões midiáticos.
A verdade é que meu corpo dói. Dói muito.
Não há uma hora de meu dia que eu não sinta essa dor. E por mais que eu esteja disposta a suportar os desconfortos de um mundo sem mercadorias, a dor do meu corpo faz minha relação comigo mesma algo atroz.


N.S.L

23/12/12

sábado, 22 de dezembro de 2012

Cinzelai a sangue, a minh’alma
Cortai, riscai!
Ó tatuadores da minha imaginação corpórea!
Esfoladores amados da minha carnal submissão!


Fernando Pessoa

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012


TEMPO PSICANALÍTICO, RIO DE JANEIRO, V.40.2, P.???-???, 2008
JAMES JOYCE: O AUTO-RETRATO

"A crença sintomática faz com que o enigma incida inicialmente sobre o pai. Se um enigma é “uma enunciação da qual não se acha o enunciado” (LACAN, [1975-1976] 2007: 65), Um retrato do artista quando jovem nos mostra esse sentimento de perplexidade e estranheza que a voz e as injunções paternas provocam em Stephen durante o passeio por Cork. Na medida em que não opera no sentido da constituição do campo dos ideais do eu (do bom cavalheiro, do bom católico, do homem viril, etc.), a voz paterna apresenta-se como uma “ressonância-oca”, uma espécie de ressonância significante esvaziada de significação que opera como uma pura sonoridade e que não deixará de ser determinante na construção joyceana da escritura. Se na Metáfora Paterna o significante do Nome-do-Pai substituise ao desejo da mãe e esse desejo é significado ao sujeito, aqui o enigma do desejo não é significado ao sujeito, ele permanece em seu estatuto de enigma. A operação metafórica cede lugar a movimento metonímico, haja vista a construção das listas de nomes, tentativas de localização e de inserção em uma linhagem simbólica, à qual
Stephen apela no momento de perplexidade.
Algo permanece em estado larvar, não nascido e, nas fantasias, o filho (S. D.) se substitui ao pai (S. D.). Tal movimento é facilitado por esse último na medida em que se considera mais como um irmão, às vezes um rival. Um pai severo? Jamais! A devolução do filho, supostamente puritano, “ao seu Criador”, uma referência provável aos jesuítas que o educaram, parece insuficiente para estabelecer o
sentimento de filiação. Nem mesmo as fantasias construídas de “um parentesco místico”, isto é, de ser filho adotivo, lhe garantem um lugar na linhagem simbólica, na galeria dos antepassados, contados
retroativamente até a quarta geração. 
A conseqüência disso localiza-se claramente na estranheza que marca a relação do sujeito ao seu próprio corpo. Desenhado como um enigma, esse corpo se apaga como um filme exposto ao sol ou se desprende do sujeito como a casca de um fruto maduro.
Com a psicanálise é possível perceber que para se atribuir um corpo, para poder ter um corpo e fazer algo com ele, o sujeito paga o preço da castração (SOLER, 1998). No seminário sobre o Sinthoma, Lacan inscreve a consistência corporal no registro do imaginário e esse corpo, que não se evapora apesar de sair fora a todo instante, é a única consistência mental do ser falante (LACAN, [1975-1976] 2007). 
Por consistência o psicanalista se refere àquilo que mantém as coisas juntas, tal como um saco. O corpo surge, assim, como pele, como um saco que mantém juntos um monte de órgãos (LACAN, [1975-1976] 2007).
Depois de dizer que ter um corpo para adorar é a raiz do imaginário, e que o amor-próprio e a adoração do ser falante pelo próprio corpo se devem à crença em que têm um corpo, Lacan afirma que “a idéia de si como um corpo tem um peso” que “é precisamente o que chamamos de ego”, dito narcísico porque suporta esse corpo como imagem (LACAN, [1975-1976] 2007: 146). Uma das vicissitudes de “termos” um corpo e não de “sermos” um corpo, é que podemos ter uma relação com esse corpo como algo estrangeiro. É o que acontece com Joyce na medida em que ele deixa cair, em que larga (liegen lassen) o próprio corpo(5). Ele não manifesta interesse algum por sua imagem narcísica e chega a experimentar repulsa por esse corpo
do qual se solta, ou ao qual larga, como uma casca se desprende de seu fruto. Se as pulsões são os ecos do dizer sobre o corpo, em Joyce o dizer não ecoa desse modo e isso faz com que o sintoma seja, não um acontecimento de corpo (LACAN, [1975] 1987), mas, um acontecimento escritural."



Artífice

Somos todos fabricados. E a sensação de fraude que me persegue nada mais é que a emanação do não ser que se realiza em mim.
Apesar de suspeitar que não podemos acontecer por decreto vou decretar mesmo assim. 
Se for para viver uma invenção, vou fazer a melhor a invenção de mim. 
N.S.L
20/12/12

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012


Atendendo ao convite de minha amiga Rosely Gonçalves estive ontem pela primeira vez no Sarau Vira Lata. O encontro aconteceu parte do tempo dentro do Museu de Artes e Oficios e o restante às margens do Monumento à Terra Mineira, no largo da praça. 
Participar desse evento foi um presente. Eu, que acho que a poesia sustenta aquilo que em nós é humanidade, vibrei com o que e pude ver: umas duas centenas de jovens desfrutando e recitando poesia em seus vários formatos.  
A presença do nome "Gutierres" no Museu não intimidou os revolucionários. A poesia revolucionária e questionadora do status quo foi presença marcante. 
A poesia lirica, o bit da poesia do hip Hop do Hap também. Não faltou poesia regionalista,  o repente e até uma certa poesia com tom da "causo".
Mais, vaidosa como sou, não posso deixar de dizer: o ponto alto para mim foi a oportunidade de ler meu poema "Coito Antropofágico" diante dessa galera. Fui a delírio. Por isso só tenho a agradecer aos organizadores e a Rosely que me convidou. Espero ansiosa pelo próximo.  

coito antropofágico

fuder com o mundo
fingir  deixar
ele penetrar
mão no seus quadris
enfiar fundo
meu poema no mundo

e correr pra dentro
pra gozar comigo
N.S.L.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Resenha Elvis & Madona

Acabei de assistir Elvis & Madona de Marcelo Laffitte. Gostei muito do filme  e tive vários motivos para isso: 
- gosto muito de filme brasileiro;
-adoro a precariedade do baixo orçamento (ela me deixa mais próxima do esforço performático e mais longe do show de efeitos);
-o filme é bem humorado e tem final feliz 
- a temática é atualíssima.
Em resumo o filme trata da história de uma fotógrafa freelancer chamada Elvis (Simone Spoladore) que faz bico como entregadora de pizza. Ela conhece Madona (Igor Contrim), uma travesti que trabalha como cabeleireira. Madona sonha em produzir um show de teatro de revista. As duas se apaixonam e Elvis acaba grávida.
O inusitado do filme é a pergunta que a própria Elvis faz em determinado momento do filme: o que é normal para uma relação?  
O filme é mais um que me ajuda a separar aquela tríade que eu pensava inseparável: gênero, sexo e amor. Pista aberta para a dança das identidades.
Recomendo. 

N.S.L
18/12/12

sábado, 15 de dezembro de 2012

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012





O ato de descascar carrega em si um furor simbólico impossível de ser absorvido de um só gole. Nele é possível perceber uma necessidade de desvelar o miolo, mas também de arrancar aquilo que cobre a essência.
Isso só para começar. Poderia dizer de répteis que se desfazem da pele a cada nova fase de crescimento, ou daquele problema que parece insolúvel e que deve ser descascado como abacaxi..
Quanto conforto você está disposto a renunciar?
Não pense ser tola a pergunta.
Na verdade é disso que se trata ser livre. Estamos presos a parafernália mercadoilógica do capital porque somos uma geração viciada em conforto.
Quanto mais desconforto pudermos suportar mais possibilidade de liberdade estamos abrindo.
Pense no carro mais confortável, a casa mais confortável, a TV, os móveis, os alimentos, as roupas. Quanto trabalho aprisionante é necessário para manter tudo isso?
Peneirando o que fica é muito pouco.
Vamos nadar contra a corrente. A liberdade vale alguns desconfortos, não é mesmo?


N. S. L.

09/12/12

sábado, 8 de dezembro de 2012

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Penas

Ás margens da fogueira 
sobre a areia
onde todos ouvem
suave voz
de homem
a letra da canção
me pergunta
porque eu não conto
o que quebrou  
minh'alma

não posso voar
todas as canções 
em que o amor
tem final feliz
deixaram bambas
minhas penas

N. S. L
06/11/12

sábado, 1 de dezembro de 2012


Em minhas aulas costumo explicar os morfemas como um sistema solar onde em cujo centro impera o verbo que, assim como o sol, irradia seus efeitos sobre as outras palavras.
Explico assim por que acredito no verbo como palavra central na linguagem. 
No entanto acabei de ler um trecho do " Articulação Simbólica: uma abordagem junguiana aplicada a filosofia do design" do  Marcos Namba Beccari que ampliou meu olhar. 

Lá pela página 189, depois dele ter dissecado o conceito histórico de imaginário ele me sai com essa:

" Discípulo de Bachelard e atuante do Círculo de Eranos, o antropólogo Gilbert Durand funda em 1967 o Centre de Recherches sur l’Imaginaire (Centro de Pesquisas sobre o Imaginário) em Grenoble-França, um centro de pesquisa dedicado ao estudo antropológico de narrativas míticas. Procurando elaborar uma classificação antropológica das imagens, Durand considera que “não se trata de classificar uma cultura em tal ou tal estrutura, mas de perceber qual é a polarização predominante, isto é, o tipo de dinamismo que se encontra em ação” (PITTA, 2005, p. 19). Seguindo o pensamento junguiano e bachelardiano, para Durand o arquétipo é vazio em si mesmo (sendo somente uma estrutura), mas ao entrar em contato com uma determinada cultura preenche-se dela mesma, produzindo assim um símbolo que, em sua vez, ao organizar-se com outros símbolos numa rede narrativa, forma um mito. Contudo, o antropólogo acrescenta a existência de uma dimensão mais abstrata, anterior ao arquétipo, denominada Schème (esquema). Trata-se da intenção fundamental, aquela polarização ou dinamismo predominante em determinada cultura, correspondente ao verbo, à ação básica (como dividir, unir, confundir, etc.), que permite ao arquétipo tornar-se símbolo (idem).

Volto atrás na leitura umas duas vezes por que aquela luzinha que se acende quando algo ancora acabou de brilhar. É se o verbo for também o centro do pensamento? Lembro do SENDO que aprendi com Manoel Antonio de Castro e novamente a luzinha se acende

No texto Beccari ainda cita DURAND:

A diferença que existe entre os gestos reflexológicos que descrevemos e os schèmes consiste no fato de estes últimos já não serem apenas engramas teóricos, mas sim trajetos encarnados em representações concretas precisas; assim, ao gesto postural correspondem dois schèmes: o da verticalização ascendente e o da divisão tanto visual como manual; ao gesto de engolir corresponde o schème da descida e o do recolhimento na intimidade (DURAND, 1989, p. 61).

E finalmente sei onde tudo isso esbarrou em mim. Aquela luta antiga para achar elementos apreensíveis do inconsciente e compreender minimamente minha flutuação simbólica interna pode realmente achar resposta  NESSE VERBO.  Ou seja, o que eu venho ouvindo,  e até tentando apreender a partir da poesia é: só podemos atribuir sentido ao que vivemos enquanto essa vivência está acontecendo. É no SENDO que mora o sentido e é por isso que tentar vê-lo ou classificá-lo depois é tão difícil. 
E o que muda nesse nada que eu esbarro todo dia?
- viver parece ser mais importante que pensar sobre o viver;
_ para persistir no tempo uma poesia deve atrelar figuração a ação;
_ preciso ensinar mais sobre pensamento e menos sobre gramática.

Será que isso ficou inteligível?
Ufa!
Ultimamente as viagem de ônibus, as esperas médicas e e filas intermináveis
tem sido meus meus lugares preferidos para ler e pensar.

Quando estou erótica até o toque da ponta do cotovelo do moço bonito  no ônibus me espanta. 
N.S.L
01/12/12