sábado, 1 de dezembro de 2012


Em minhas aulas costumo explicar os morfemas como um sistema solar onde em cujo centro impera o verbo que, assim como o sol, irradia seus efeitos sobre as outras palavras.
Explico assim por que acredito no verbo como palavra central na linguagem. 
No entanto acabei de ler um trecho do " Articulação Simbólica: uma abordagem junguiana aplicada a filosofia do design" do  Marcos Namba Beccari que ampliou meu olhar. 

Lá pela página 189, depois dele ter dissecado o conceito histórico de imaginário ele me sai com essa:

" Discípulo de Bachelard e atuante do Círculo de Eranos, o antropólogo Gilbert Durand funda em 1967 o Centre de Recherches sur l’Imaginaire (Centro de Pesquisas sobre o Imaginário) em Grenoble-França, um centro de pesquisa dedicado ao estudo antropológico de narrativas míticas. Procurando elaborar uma classificação antropológica das imagens, Durand considera que “não se trata de classificar uma cultura em tal ou tal estrutura, mas de perceber qual é a polarização predominante, isto é, o tipo de dinamismo que se encontra em ação” (PITTA, 2005, p. 19). Seguindo o pensamento junguiano e bachelardiano, para Durand o arquétipo é vazio em si mesmo (sendo somente uma estrutura), mas ao entrar em contato com uma determinada cultura preenche-se dela mesma, produzindo assim um símbolo que, em sua vez, ao organizar-se com outros símbolos numa rede narrativa, forma um mito. Contudo, o antropólogo acrescenta a existência de uma dimensão mais abstrata, anterior ao arquétipo, denominada Schème (esquema). Trata-se da intenção fundamental, aquela polarização ou dinamismo predominante em determinada cultura, correspondente ao verbo, à ação básica (como dividir, unir, confundir, etc.), que permite ao arquétipo tornar-se símbolo (idem).

Volto atrás na leitura umas duas vezes por que aquela luzinha que se acende quando algo ancora acabou de brilhar. É se o verbo for também o centro do pensamento? Lembro do SENDO que aprendi com Manoel Antonio de Castro e novamente a luzinha se acende

No texto Beccari ainda cita DURAND:

A diferença que existe entre os gestos reflexológicos que descrevemos e os schèmes consiste no fato de estes últimos já não serem apenas engramas teóricos, mas sim trajetos encarnados em representações concretas precisas; assim, ao gesto postural correspondem dois schèmes: o da verticalização ascendente e o da divisão tanto visual como manual; ao gesto de engolir corresponde o schème da descida e o do recolhimento na intimidade (DURAND, 1989, p. 61).

E finalmente sei onde tudo isso esbarrou em mim. Aquela luta antiga para achar elementos apreensíveis do inconsciente e compreender minimamente minha flutuação simbólica interna pode realmente achar resposta  NESSE VERBO.  Ou seja, o que eu venho ouvindo,  e até tentando apreender a partir da poesia é: só podemos atribuir sentido ao que vivemos enquanto essa vivência está acontecendo. É no SENDO que mora o sentido e é por isso que tentar vê-lo ou classificá-lo depois é tão difícil. 
E o que muda nesse nada que eu esbarro todo dia?
- viver parece ser mais importante que pensar sobre o viver;
_ para persistir no tempo uma poesia deve atrelar figuração a ação;
_ preciso ensinar mais sobre pensamento e menos sobre gramática.

Será que isso ficou inteligível?
Ufa!

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