segunda-feira, 29 de abril de 2013


Quando Ricardo toca

Acima de nossas cabeças
uma janela
e um puro azul do céu de outono

Por ali
um menino que acabou de aprender a sorrir
e uma alquimista de palavras
e silêncios

Tente imaginar
o som inclassificável
que ele pode tirar
de uma tábua
com trinta pregos
para bordar

Nem corda
nem sopro
nem pancada
friccionada
por um velho livro
de caligrafia

Como a voz
de um cancioneiro mouro
o som
da mais bela música
no campo mais alegre do mundo

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Resenha: O menino que comia lagartos




Li na última semana para todas as turmas "O menino que comia lagartos" escrito e ilustrado por Mercè Lópes. A artista espanhola, ilustradora de primeira, afirma ter recolhido a história oralmente em uma viagem à Africa. Em algumas páginas é possível imaginar que a autora usou, além da pintura, recortes do seu caderno de processos.

O livro conta a história de Tikorô,  um garoto africano que vivia a zanzar pela cidade sem nada o que fazer. Pobre demais para ir à escola, o pequeno Tikorô vivia pelas ruas. Com seu estilingue, era conhecido por todos como o terror dos lagartos até encontrar com um imenso lagarto branco no mercado. 
Tomado pelo choro compulsivo do lagarto, Tikorô  parte com ele numa longa jornada em busca da cor e das recordações. Passou a levá-lo a várias autoridades: um sacerdote mucumano (um Kluni), uma tribo de tuaregs, uma família africana, um grupo de mascarados e finalmente um grupo de griôs. A cada visita o lagarto adquiria uma cor e Tikorô ouvia algo acerca do que o lagarto havia perdido: a memória de quem era, de onde veio, para onde ia, do tempo, da vida, da morte e a alegria de viver.   Dançando na roda dos griôs o lagarto finalmente sorri e sua dor parece ter fim.
Quando parte o lagarto dá a Tikorô o dom de sempre voltar a sorrir depois de uma grande dor. 

Recomendo o livro pela beleza das ilustrações e pela  mensagens na história e pela vontade que ele deixou em mim de também ser um griô que sempre volta a sorrir. 


domingo, 7 de abril de 2013

Gente é para ser invisível


Em jogo 
com a poesia 
queria lantejoulas
para brilhar 
na sociedade do espetáculo

No entanto
sob o manto de palavras
o barato é ser invisível

N.S.L.
07/04/13
As questões acerca da liberdade andam me fazendo pensar

A águia ratoeira não costuma censurar-se nada.
Carece de escrúpulos a pantera negra.
As piranhas não duvidam da honradez de seus atos.
E a cascavel à constante auto-aprovação se entrega.
A lagosta, o caimã, a triquina e a mutuca
vivem satisfeitos por ser como são.
{...} No terceiro planeta do Sol,
a consciência limpa e tranqüila
é um sintoma primordial de animalidade.


Extraído de Paisaje con grano de arena, de W. Szymborska, trad. esp. de A. M. Moix e J. Slawomirski, Lumen, Barcelona. [Tradução livre a partir do texto citado pelo autor.]

http://biucsproject.org/general/philosophy_action_freedom.htm

sexta-feira, 5 de abril de 2013

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Estou lendo algumas coisa sobre sobre "Zonas Autônomas Temporárias" de Hakim Bey (pseudônimo de Peter Lamborn) e impressionada com a importância da invisibilidade para a constituição na liberdade no contexto atual. 
Se a Revolução, ao refundar o Estado, conquista permanência, a insurreição, o levante, como afirma o autor, “é um momento que
surge acima e além do Tempo, viola a lei da História”.
O levante pode ser fugaz do ponto de vista cronológico, mas nem por isso deve ser considerado uma experiência fracassada. O que interessa aqui são as alterações subjetivas provocadas por essas experiências de
ruptura, a percepção de que algo mudou.

ALTERAÇÕES SUBJETIVAS PARA A RUPTURA! Será isso que acontece depois de uma manifestação, um sarau, uma performance de rua e tantos outros eventos "fugazes" que pipocam nesse país?
Nós queremos realmente escapar à sociedade do espetáculo?