sábado, 2 de agosto de 2014

Quase todo tempo o que eu passava com ela, a tal hora de cinquenta minutos, conversávamos sobre o meu relacionamento, seus problemas e impossibilidades. Não me lembro qual corrente ela seguia, se era psicanalista, comportamental, sistêmica ou existencial. Isso não fazia a menor diferença naquela época. O certo é que para o meu caso ela parecia ser uma boa terapeuta.Eu era muito jovem, estava terminando o ensino médio (chamava-se científico naquela época) e trabalhava como doméstica. 
O tratamento terapêutico era dispendioso mais importante. Me custava uns setenta por cento do que ganhava mas garantia que eu não naufragasse no resto das questões da minha vida, principalmente estando dentro de um relacionamento abusivo e violento. No ano de noventa e três ela avisou que iria morar na Bahia e que nossas sessões iriam se encerrar. Foram seis meses de preparação para essa ruptura. Como era ano de vestibular ela me preparou um roteiro de estudo (que tenho até hoje) e me deu uma chave simbólica para o que seria a minha primeira casa individual. Foram as coisas mais significativas que alguém já tinha feito por mim até então.
Depois de sua partida deixei o trabalho, e com o acerto de contas e umas apostilas do curso objetivo de São Paulo, ganhadas da vizinha onde trabalhava, debrucei-me sobre o roteiro de estudo e ao cabo de seis meses era umas das primeiras aprovadas da Federal de Minas Gerais de noventa e quatro. A chave demorou um pouco mais. Eu a usei quando me mudei para a primeira casa que tive, no porão de minha mãe em noventa e nove. Tenho saudades de suas paredes até hoje. 

NSL
02/08/14

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