quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

De nada adiantou lutar contra essa vontade de estar em outro lugar quando estou aqui, aprisionada a este agora lancinante. Tudo que tenho são esses milésimos de segundo correndo como enchente. Este chão de terra e entulho do meu quintal é tão útil como a grama zoysia japônica do belo jardim da mansão. Mas as gotas de chuva que me abraçaram ontem na avenida augusto de lima agora são barro e bosta no fundo de um rio sepultado no centro da cidade.  
Ninguém escapa de si. A violência por exemplo, odeio-a. Mesmo a violência que mora em mim, minha querida pássara. Essa que nunca me abandona, que me faz desejar estraçalhar adversários imaginários. Essa que surge quando sou convidada a jogar. Sou um galo de briga com o pensamento costurado com linha forte. 
O encontro me faz sentir repleta. No entanto doí quando esvazio. O Outro é deslumbrante apenas na minha imaginação. Ninguém se dá o trabalho de alimentar minhas idealizações. Porque deveria?
Os bem-te-vis abandonaram um ninho velho no pé de  amora e ele agora é habitado por um casal de rolinhas. No inverno serão os bicos-de-lata. Pássaros me parecem tão livres com seus corpos no espaço. Desde os gregos a palavra liberdade nos remete a movimento do corpo. Veja esse Freedom inglês, que surgiu do "pescoço livre", do frei Hals, referindo-se aos grilhões que mantinham aprisionados os escravos pelo pescoço. 
Aprendi um pouco de liberdade contigo, pássara. Isso me fez achar a moral ridiculamente injustificável. Porém ainda preciso perguntar a quem ofenderia por meus seios à mostra, ou dizer o que realmente penso acerca de convicções e certezas. Por enquanto ensaio pequenos voos com rota. Estabeleço movimentos de rotação e de translação para meu corpo voltar sempre ao mesmo lugar. Ainda carrego asas conectadas ao meu amor maduro. 

NSL
28/01/15

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