quinta-feira, 4 de junho de 2015

Os passáros de minha mãe de Cecília Woloch

Minha primeira tradução. Fui cigana com Cecilia. Também fui um pássaro engordado por minha mãe. Chorei muito ao final da tradução. 

My Mother’s Birds

My mother’s Polish nickname was the word for dried-up; sticks Sucha, her mother called her. Little witch; Miss Skin-and-Bones. Fifth of eleven thin and startled children, all those mouths to feed. Okay: it was the Great Depression; everyone was poor. They baked potatoes over fires in the street, my mother said; dipped stale bread in buttermilk, ate what was put in front of them. And she was dark-eyed, dreamy, danced in vacant lots, played movie star. Tied her black hair up in rags; high-kicked through cinders, broken glass. Picked cigarette butts from the gutters for the pennies Dzia-dzia gave. Though CioaCia Helen down the hill, their crazy aunt, was better off. She gave them sweets, cheap sweets but sweet. She gave them Easter chicks one year. My mother took the tiny peeps and raised them tenderly, as pets. I’ve seen the photographs: their white wings all aflutter in her arms. As if such chickens could have flown, but they were meat, those birds she loved. Tough meat, and these were hungry years. And CioaCia raised the axe. My mother sobbed and couldn’t swallow, nor could anyone, I’ve heard. The story goes she saved a few stray feathers, hid them, sang to them. Knelt above them weeping in the attic, just like church. Fed and watered them for months, her sisters laughed; the ghosts of birds. The way, years later, always singing, she would try to fatten us. Her own strange brood of seven children, raised less tenderly, perhaps. As if, this time, she wanted to be sure we’d get away. She’d set the steaming plates in front of us, still humming, cross her arms. Don’t be afraid to eat, she’d say, because we were. We were afraid.
http://5trope.com/newissue/cecilia-woloch-four-poems/

Pássaros de Minha Mãe
Cecilia Woloch
O apelido polonês da minha mãe era a palavra vara-pau, Sucha, sua mãe que deu. Bruxinha; Senhorita Pele e osso. Quinta de onze filhos finos e assustados, todas aquelas bocas para alimentar. Certo: era a Grande Depressão; todos eram pobres. Eles cozinhavam batatas em fogueira na rua, minha mãe contou; mergulhava pão dormido em coalhada, comia o que era colocado na frente deles. Tinha olhos escuros, sonhadores, dançava em terrenos baldios, fingia ser estrela de cinema. Amarrava seus cabelos negros com trapos; dava pontapés em cinzas, vidro quebrado. Colhia pontas de cigarro nas sarjetas pelas moedas de um centavo de Dzia-dzia. Ainda que CioaCia Helen fosse louca, descendo a colina, estava melhor. Ela deu-lhes doces, doces baratos, mas doces. Um ano ela deu-lhes pintos de Páscoa de um ano. Minha mãe pegou os pequenos pintinhos e levantou-os com ternura, como animais de estimação. Eu vi as fotografias: suas asas brancas agitadas em seus braços. Como se esses frangos pudessem voar, mas eles eram carne, as aves que amava. Carne dura, e estes eram anos de fome. Então CioaCia levantou o machado. Minha mãe chorou e não conseguia engolir, nem poderia alguém, eu ouvi. A história diz que ela salvou algumas penas perdidas, as escondeu, cantou para elas. Ajoelhou sobre elas chorando no sótão, como numa igrejinha. Adubou e regou por meses, suas irmãs riam; os pássaros fantasmas. Na estrada, anos mais tarde, sempre cantando, ela iria tentar nos engordar. A sua estranha ninhada de sete filhos, obteve menos ternura, talvez. Como se, desta vez, ela quisesse ter certeza de que teríamos distância. Ela dispunha os pratos fumegantes em frente de nós, ainda cantarolando, e cruzava os braços. Não tenham medo de comer, ela dizia, porque estávamos. Estávamos com medo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário