sábado, 28 de abril de 2018

não em abril

eu dizia flâmulas de ouro
e fazia brotar o trigo
por alguns dias
a magia da poesia
tornava possível ser feliz

agora tenho apenas
essa ânsia de afogada
me fazendo buscar palavras
de quando acreditava
na vida simples
e para sempre

tão simples como
o tingir-se de roxo
das amoras, o passar
distraído dos dias
simulacros de alegria

esvaziam-se cômodos
pintam fachadas
as roupas doadas
não contam
daquilo que morre

espero que haja perdão
para aquela que em mim
dissipou as migalhas
deixadas ao longo da estrada

espero, pois há de vir
nessas tardes cinzas de outono
palavras mágicas
que suspendam o peso
de minhas sombras
porque a poesia
a poesia
é a minha extraordinária
história de amor

terça-feira, 24 de abril de 2018

é preciso aprender
todos os sentidos
da palavra vingar
 se amanhã de manhã
eu for capaz de colocar
um pé
adiante do outro
já terá sido suficiente

quarta-feira, 18 de abril de 2018

HOJE HOJE ESTOU TE ABANDONANDO AMOR Xela Arias - Tradução de Norma de Souza Lopes

Hoje estou te abandonando amor
Estou lá fora nas figueiras carregadas e nas águas das nuvens
mas não fui eu quem escolheu sair
um navio estranho me roubou de sua mão
me absorveu a decisão

Como ramas rio abaixo parte o meu amor
escada de perguntas
como sua boca e a minha boca abrasam
aturdida é esta distancia que que buscamos 
ainda não podemos arder
como a frágil lenha dos incêndios
dois cavalos, quatro peixes e um amieiro muito alto
tecendo desenhos movidos pelo vento

essas folhas
o suco dessas veias 

esse sangue de animal assassinado!

como partem os pássaros para o além, parte o meu amor

talvez andorinhas nos telhados possuam hoje
a palavra que não digo
mas como eles miravam 
os veleiros arrastados fugindo da tempestade
como eles pregaram nossos movimentos
seco, de uma só vez, contra as paredes!
Deserção móvel? meu amor porque te amo

terça-feira, 17 de abril de 2018

inside

se deseja ser
uma oferenda para o sol

incendeie-se
e sugue a culpa
lave-se bem
lave o cheiro de cerca
e muro, lave-se

escave um poro
por onde escapar
escave um poro
cavalo azarão
escave de joelhos
nem um passo
para fora
escave um poro
loser, não há escape
sem resposta
sem saída, gauche
escave um poro


Fadwa Souleimane Tradução de Norma de Souza Lopes

A ti
Que está me matando nesses tempos
E a quem vem me matando nesse tempo
Tempo de morte
Esse tempo

Virá esse instante quando
Olhos nos olhos
Veremos que somos nada salvo o reflexo de nosso olhar
Que diz perdão
Nada mais
perdão

Observa este perdão em meus olhos
E as veias
A  luz persiste diante de nós

domingo, 15 de abril de 2018

amanhã (republicado)

amanhã será segunda-feira
correndo tudo bem
baixo sobre mim a tampa
fazendo as contas
do advento da agricultura até aqui
é impossível impedir
a perversidade dos que tem mais
não sei ao certo
o que tenho eu com o perdedor
da vida, trago só o que arranquei à unha
do passado, a fome da infância
e eu, aquele bar 24 horas aberto
onde homens escarravam discretos
e mulheres desfilavam
o cheiro de desodorante avon
pesadelos apagaram sonhos bons
mas estar feliz ou triste é uma balança
amar a praça, a dança, o sol
não tem nada a ver com boa sorte
ganhar ou perder é questão de convicção
para que lado pende o prato
enquanto ouço esse blue
e escrevo esse poema?
e depois de amanhã será terça-feira

quarta-feira, 11 de abril de 2018

tão pouco
é já é possível prever
choro e ranger de dentes
esse zelo
em lavar os o corações envenenados
é só nosso, amor
dê-me um minuto
é que seu cheiro sugiu
potente, me rasgando
não há solução para o que não pode ser